Debate e diversidade marcam Mostra da Consciência Negra da FAI

Na noite desta terça-feira, 21, alunos, professores, integrantes do Movimento Negro local e pesquisadores de diversas áreas estiveram reunidos na Faculdade Irecê, para participar da  Mostra de Consciência Negra da FAI. Com diversos Stands, oficinas e mostras culturais o evento buscou resgatar e debater a diversidade, a miscigenação, e a identidade negra e étnica brasileira sob diferentes ângulos, opiniões e pontos de vista.

Com as palestras dos professores Medson Janer, Tatiana Lima, Lua Clara Vieira e César Damásio, o Evento foi marcado por uma discussão rica, que transitou desde os elementos históricos da identidade e cultura negras no país, até aspectos simbólicos e imateriais importantes para a “composição” das visões, representações e atitudes que fazem parte da nossa compreensão enquanto sujeitos e seres sociais sobre um povo (o povo negro) que cotidianamente sofre as mais tacanhas expressões de preconceito, racismo e discriminação.

Para professora, mestre em história, Tatiana Lima, eventos e projetos que resgatem a memória e história do povo negro e escravizado no Brasil precisam ser estimulados, para que as futuras gerações possam compreender melhor o papel dos negros na construção do país. “No Brasil existem muito poucos memoriais; muito poucos momentos; muito pouca vergonha por parte dos brasileiros do que se foi feito nos 350 anos de escravidão”, ressalta a professora ao conduzir um resgate histórico sobre os negros no Brasil.

Outro aspecto importante debatido no Evento foi a importância e a riqueza das religiões de matrizes africanas no país. Conduzida pelo professor, doutor em agronomia, e praticante do Candomblé, Médson Janer,  a exposição trouxe para o debate a riqueza e o legado dessas religiões, que, organizadas a partir do culto aos Orixás, Inquices e Voduns, originários das crenças primeiras dos africanos, foram sincretizados com Entidades (ou Santos) do universo religioso brasileiro.

De acordo com o professor Médson, muito mais do que expressões alegóricas, as religiões de matrizes africanas, representam a fé de um povo que, escravizados, foram obrigados a se instalar no Brasil, mas que deixaram aqui um legado cultural e social importantíssimo para a nossa identidade.  “A África nos deu inúmeras religiões de matrizes africanas: inúmeras nações que aqui vieram, trouxeram sua religião; trouxeram sua crença, sua identidade, sua cultura e sua culinária. Trouxeram tudo que era de melhor de uma maneira grotesca, que foi através da escravidão. Mas, por outro lado, não teríamos um Brasil hoje sem o negro”. 

O Evento contou ainda com a palestra da pesquisadora Lua Clara, que debateu questões sobre a construção da literatura negra no Brasil e no mundo e como as questões simbólicas e discursivas, concretizados em lugares de fala pautados pela diversidade podem libertar sujeitos e grupos de muitas formas de opressão.

A Mostra foi encerrada com uma abordagem lúdica da construção da negritude enquanto conceito, por meio de uma ideia de dominação na sociedade. Com uma fala carregada de simbolismos, o sociólogo César Damásio instigou todos os presentes a refletir sobre a construção dos ideais que construíram ao longo do tempo essa ideia de consciência e pertença negra, tão presente nas raízes que constituem a cultura a nação brasileira.

Diversidade. Essa palavra traduziu a Mostra da Consciência Negra da FAI, que, sem dúvidas, se concretiza como evento importante da nossa região, uma vez que se volta para a construção de uma educação mais ética, onde o diferente não é apenas tolerado, mas respeitado em suas crenças, cultura e história…